[Contos e tesouros da Indonésia . 01]
.
Essa é uma série de contos e pequenos acontecimentos cotidianos que resolviregistrar na minha breve visita a esse país incrível.
Dizem que estar sozinho é estar solitário. Pra mim estar sozinha é fazer uma imersão em mim mesma. É quando me encontro com pequenos - e grandes - espaços dentro demim que eu nem me lembrava mais que existiam: a gente se olha, se reconhece, sereconecta e sorrimos um para o outro. Ando a pé sem pensar nas distâncias,sorrio ao desconhecido sem me importar com nossas diferenças: culturais,religiosas, ideais. Viajar sozinha é se colocar num espaço - mágico - devulnerabilidades e descobertas. Silenciar mais que falar. Observar mais quetentar entender.
Assim eu dou início a mais uma jornada nesse país que é só sorriso.

[Contose tesouros da Indonesia . 02]
.
Connecting to people
.

A melhor parte da viagem, para mim, são as pessoas. Sinto que já viajei muitasvezes e deixei de me conectar de verdade com as pessoas que fotografei. E issome parece injusto. Há algum tempo decidi que queria na verdade é saber maissobre elas. Sobre quem são, o que gostam de fazer, o que as fazem feliz, porqueestão ali.
Sempre procuro almoçar nos lugares mais baratos, pois é ali naqueles pequenosespaços que os locais estão. Não me parece interessante ser atendida por umaestrangeira num café francês em Bali.
Pedi um Fried Rice vegetariano. Mais tradicional que isso, só o Nasi Goren. Amoça que me atendeu trabalhava sozinha. Fazia tudo sozinha. Ela logo disse quelembrava de mim toda feliz da última vez que vim (eu duvido, faz 4 anos. Masquem sou eu pra dizer o contrário?). Sorri feliz e dei margem para aquelaconversa começar! Ela me disse que às vezes é difícil fazer tudo ali sozinha.Que o marido dela é alemão e fica 6 meses fora, 6 meses aqui. Que eles não têmfilhos e que na Alemanha faz muito frio. E perguntou se no Brasil também fazfrio. Foram vários minutos de conversa. Quando pedi pra tirar uma foto dela, osorriso brotou de seu rosto, ela tirou o avental e chamou alguém ali dorestaurante pra tirar uma comigo, do seu próprio celular.
Ela me abraçou, não uma, VÁRIAS vezes. Deu uns tapinhas na minha bunda (haha) epediu pra que eu, por favor, voltasse lá antes de ir embora da Indonésia.
Eu vou voltar.

[Contos e Tesouros da Indonésia . 04]
.
Sobre aprendizado
.
Esses dias aqui na Indonésia tenho me dado um presente todos os dias: opresente de não planejar. Nada. Fluir. Não tenho a menor idéia de onde voudormir amanhã.
Ao mesmo tempo existe uma vontade imensa dentro de mim de desbravar esse paísinteirinho. Conhecer cada cantinho secreto dele. Entre passeios com dezenas depessoas, ou seguir pra Ubud, Em cima da hora resolvi vir conhecer a @greenschoolbalie entender um pouquinho como é o trabalho deles com as crianças e osadolescentes que vem aqui porque acreditam na mudança que precisamos fazer nomundo. Cheguei aqui e as visitas guiadas na escola estavam todas cheias pelospróximos dias. Então a gerente me encaixou num workshop incrível depermacultura na @kulkulfarm, que é do filho do fundador da Green School. Me juntei então aos pais dascrianças que estudam aqui, de todas as nacionalidades que se pode imaginar.passamos o dia numa integração incrível, plantamos, aprendemos, conectamos,ouvimos histórias. Fiquei pensando e acho que hoje eu não consigo mais viajarsem propósito. E o quanto é possível aprender se estivermos abertos a viverexperiências que nos acrescentem mais além de fotos.

[Contos e Preciosidades da Indonésia .05]
.
Sarasvati é uma deuza hindu da sabedoria, do conhecimento, das artes.
Hoje foi dia de Sarasvati. Era nítido nos vilarejos e em todas as casas amovimentação animadora da preparação para esse dia. Alguns chamam de destino, euprefiro chamar de universo o que me colocou, hoje, aqui. Hospedada numa escolatransformadora por essência. E me deu a chance de presenciar provavelmente umadas coisas mais bonitas que vou ver nessa vida. Essa cerimônia só acontece acada 25 anos na Indonésia. Foi lindo e intenso ver a mistura de nacionalidadestodas vestidas da mesma forma, respeitando e vivendo de fato a cultura localnuma harmonia impressionante.
.

Terima kasih Indonésia.

[Contos e Tesouros da Indonésia . 06]

Sobre se expressar

Meet Lisi, uma espanhola incrível, mãe de 2 filhos, um delesuma criança linda da etiópia que ela adotou há 4 anos atrás. Ambos estudam naGreen School e ela veio morar em Bali com o marido pra proporcionar essaexperiência para os filhos, que são a coisa mais linda desse mundo. Eu e Lisinos conectamos muito, desde o primeiro dia, quando ela pediu dicas de quallente e câmera comprar. Nossos caminhos se cruzaram novamente no dia seguinte,na cerimônia do Sarasvati, na Green School. Dentre centenas de pessoas, todahora e todo lugar que eu ia, ela estava lá com os pequenos e sorríamos juntascom a beleza de tudo aquilo.

Conversamos sobre algumas coisas, uma delas sobre planos ecoisas pra fazer em Ubud. E ela me recomendou ir no Yoga Barn, numa dança incrívelque acontece lá.

No mesmo dia fui pra Ubud, deixei as malas no hostel e corripra lá.

A dança só acontece 1x por semana, aos domingos. E erasábado – thanks again universe!

Eu não tinha a menor idéia do que ia encontrar, de como eraa dança. O briefing da Lisi foi “é um lugar de energia incrível, você vaiamar”. Bastou isso pra eu decidir adiar os planos da visita a cachoeiras,campos de arroz e templos.

Cheguei uma hora antes, peguei minha senha, observei aspessoas que chegavam.

Eram 120 pessoas, desconhecidas, um dj, uma pessoa napercussão e voz, todos dançando com uma única regra: não havia regras. Em pé,fechei os olhos pra me concentrar e senti uma vontade forte de chorar. Chorei.Abri os olhos e Lisi chegou com os 2 pequenos. Corri para abraçá-los e apróxima 1 hora e meia foi uma mistura intensa de sentimentos e uma sensaçãolinda de liberdade, de celebração com aquelas 120 pessoas desconhecidas, detodas as idades, que sorriam umas para as outras e dançavam juntas sem julgamento,sem segundas ou terceiras intenções.

Fiz vários parceiros maravilhosos de dança nessa aventuramusical. Chorei, sorri, abracei o desconhecido, real e literal.

Achei que viria para Ubud encontrar um sábio senhor, umhealer “a la eat, pray and love”, que fosse resumir em poucas palavras coisasque eu precisava ouvir. No fim ouvi a voz dentro de mim mesma, que me fezescolher viver aquilo sem nenhuma expectativa e, de curacao aberto, me abrirpara a minha própria expressão. Foi transformador entender novamente que estátudo aqui dentro.

A dança e a música curam.

[Contos e preciosidades da Indonésia .07]

Sobre Consciência

Eu comecei a mergulhar quando estava com uma viagem marcada para Galápagos enão podia perder a oportunidade de ver o fundo do mar num dos melhores lugaresdo mundo. Mas de fato
Eu não tinha ideia do quanto vivenciar aquele novo ambiente iria mudar minhaforma de me relacionar com o mar e principalmente com o mundo.
É um lugar tão sereno, tão calmo, de tanta harmonia que da vontade de viver alipor um tempo e olhar com olhos mais atentos cada detalhe daquele cenáriomulticolorido.

É o único lugar que me dou direito de desfrutar sem câmera, só com os olhos daalma. E guardo tudo no HD interno pra quando precisar fechar os olhos e apenassentir aquela calma novamente.

Se todo mundo se desse o direito de conhecer essa realidade das profundezas dooceano, com certeza estaríamos agindo diferente com nossas escolhas. Depois demais de 50 mergulhos e de ver muitos lugares com um potencial incrível estarsimplesmente sem vida, sem peixes, corais destruídos, dá pra ver o quanto agente ainda engatinha do ponto de vista da conservação dos nossos oceanos, querepresentam mais de 70% da nossa área.

Então, quando a gente encontra um lugar maravilhoso, conservado, cheio de vida,tem a oportunidade de mergulhar rodeados de arraias mantas, o tão famoso MolaMola, muita muita vida, corais coloridos e fluorescentes, Peixes com as coresque eu costumava ver no Pantone das cartelas de cores dos fornecedores detecido, a gente fica assim, igual na foto, bobos e felizes! Está tudo ali,vivo, todas as nossas referências artísticas e criativas. Tudo - ainda - existede verdade. Conserve, pare de usar canudo e não reclame que o supermercado nãotem mais sacola plástica e viva os oceanos!
Love,
Bruna.

[Contos e Tesouros da Indonésia . 08]

Sobre presentes inusitados

Uma das coisas que eu queria nessa viagem era conseguirassistir uma cerimônia Hindu. Mas eu queria algo mais genuino, longe dosturistas. Por isso nem considerei ir ao temple de Uluwatu com 500 pessoas aomeu redor.

Fiquei MUITO feliz com a oportunidade de assistir acerimônia de Saraswati na Green School, posso dizer que fiquei num estado detranse profundo ouvindo aqueles homens tocando, as crianças todas brincando emmeio aos bambus e dançando, as roupas fascinantes das mulheres e o olharprofundo e um tanto quanto teatral que elas assumem durante as danças.

Eu estava em êxtase, com duas câmeras na mão o tempo todo,completamente fascinada por tudo aquilo. Um almoço foi servido e enquanto aspessoas foram comer, a música e a apresentação continuous. Eu seo conseguificar ali ajoelhada perto deles sem saber se fechava os olhos pra sentir apenasa vibração daquele som ou se filmava.

Todos comeram, começaram a ir embora, e os músicos começarama parar de tocar. Perguntei se havia acabado, eles disseram que sim, sorrindo –como sempre. Uma mulher chegou com uma bacia de ovos cozidos para eles sealimentarem.

Eu continuei ajoelhada observando eles arrumarem osinstrumentos, paralisada. Dois deles vieram até mim, perguntaram de onde euera. E me deram o que eu considerei um presente: um ovo cozido. Um ovo de cadaum.

Não sei se perceberam que eu não havia almoçado. Mas, nessedia, esse foi meu almoço.

[Contos e Tesouros da Indonésia . 09]

.

“You seem to have too much thinking in your mind”, eu ouviuma voz enquanto estava sentada distraída no sofa do hostel. Olhei para o ladoe era pra mim que o indonésio falava.

Arregalei os olhos. Sem conseguir falar nada, elecontinuous, num inglês fofo cheio de sotaque: “Nós aqui na Indonésia, nós nãopensamos muito. Esse é o nosso segredo, o segredo da nossa alegria, da nossajuventude: nós não pensamos demais. Mas vocês? Vocês estão indo para orestaurant já pensando no que vão pedir pra comer. Porque? Quando você chegarlá, você vai saber o que pedir, não precisa pensar em tudo com antecedência.”

Eu realmente só consegui olhar pra ele e sorrir, e dizer queele havia acabado de me dar uma aula de vida, em apenas 2 minutos de conversa.E agradeci.

E ele: “Não pense tanto assim.” E sorriu de volta.

O que dizer, senão que eu amo tudo desse povo? ObrigadaIndonésia, pelos ensinamentos diários, pelas pequenas conversas soltas edespretensiosas, com o taxista, com o dono do hotel, com a moça do barco, dotransfer, do restaurante.

Using Format